-Quem é você?
-Te interessa?
-Só responde.
-Marie.
-Esse é seu nome. Não foi isso que eu perguntei.
-Então o quê?
-Quem é você?
-Sou uma artista plástica.
-De novo, não era isso.
-O quê então, porra?
-Quem é Marie?
-Eu.
-Quem é Marie sem sarcasmo?
-Ninguém.
-Engraçada. Quer fazer o favor de responder?
-Sou uma artista frustrada vivendo numa kit da Asa Norte dessas em cima da comercial sem um tostão no bolso. Expulsa de casa aos 16 pelo pai alcóolatra, tatuada desde os 18 e sem um fio de cabelo na cabeça desde junho. Tá bom assim?
-Melhor, mas isso não é você. Essa é sua história. Quem é você?
-Sou uma pintora subversiva bisexual de olhos claros.
-Emprego, estilo, orientação, estética...
-Aonde você quer chegar?
-Em você.
-Ah, claro! Quem sou eu... Eu sou eu, merda.
-Você é uma merda?
-Por que não?
-Acho que entendi quem é você.
-É?
-Sabe tudo isso que você me falou? Desde “te interessa” até esse último “é”?
-Ahn?
-Essa é você.
-Acho que você bebeu demais hoje.
-Não é isso. É que eu...
-Pra que esse interrogatório, mesmo?
-Deixa pra lá. Agora me dá um beijo e volta a dormir, vai.