terça-feira, 4 de agosto de 2009

"Ele fala?"

            Era dia, bem cedinho. Ou tarde da noite, na verdade, tanto faz. O que importa é o que acabava de descobrir. Descobriu que aquela pessoa engraçada, desajeitada e meio feia que aparecia no espelho não era a mesma que calçava seu par de all-star branco e se arrastava pelo dia. Descobriu que aquele cabelo, um pouco sujo e despenteado pelas horas de sono era, em outros olhos, uma rebeldia mesclada com estilo. Notou que a barba, já crescida, mas ainda um pouco falha, era sua marca registrada, como a haviam definido. Percebeu que todo o seu ser, tudo o que sabia de si, eram parte de uma outra pessoa, um outro alguém que ele nem conhecia, mas que insistia em usar seu cabelo, sua barba e seu all-star.

            A calça velha dele, era o estilo despojado do outro, o olhar cansado era um charminho extra e a timidez intrínseca, um quê de mistério. Parecia que tudo que era dele se moldava de forma a construir esse outro ser. Esse, que era tudo que ele queria ser. E quando percebeu que ele já era tudo o que queria, soube exatamente qual era a cereja que faltava para seu sundae de creme com cobertura de chocolate e castanhas de caju ficar perfeito: sentir-se tudo aquilo. Finalmente se encontrou. Entende hoje que seu cabelo sujo rebelde, sua barba registrada,sua calça estilosa, timidez misteriosa e all-star gasto são tudo parte de uma pessoa só. E nesse dia, quando descobriu tudo isso, se sentiu tudo o que sempre quis. Agora, se é perguntado se ele fala, por causa daquela maldita timidez, ele já tem resposta. 


É um mistério.

5 comentários:

Clara Campoli disse...

Bravo! Me ensina a escrever, Gabo?

Unknown disse...

eu te admiro!

Anônimo disse...

Amei. E amo. :)

:*

Destruckt disse...

Gabriel, é vc do 1 de maio? Entre em contato: israeldasilva arroba gmail.com

Abraço

Unknown disse...

Nossa, nem sabia que você tinha blog e me deparo com um texto desse. Amei. Dá pra te conhecer pela primeira linha. Pra ficar completo só faltou falar do par de chinelos..