domingo, 12 de abril de 2009

Frango Assado

Minha história é longa. Quando o homem me descobriu, eu já habitava a Terra há muito. Dizem, na verdade, que a Terra era só eu, antes de uma voz resolver mudar tudo, e acabar com meu reino. Posso ter perdido boa parte do que tinha, mas não desapareci. Estive aqui o tempo todo. Vi o tempo passar. Vi células virarem peixes, peixes virarem anfíbios, anfíbios virarem lagartos. Vi dinossauros que andam, que correm, que nadam e que voam.

Vi de tudo.

Até que vi o homem.

O homem, ao ver meu brilho, minha dança, se encantou. Se encantou tanto, que o primeiro homem que me viu, não viu mais nada. O segundo homem, sim, foi mais prudente. Me levou para casa e desde então venho assando frangos, iluminando ambientes e esquentando corpos.

Á partir desse dia, homem e eu nunca mais nos separamos. Passei muito tempo em cima de velas, sendo a única fonte de luz noturna. Matei bruxas que ousaram desafiar grandes instituições. Movi trens e navios com motores à combustão. E assei frangos.

O homem passou a achar que me domou. Que meu instinto agressivo, nervoso, inquieto está sob controle. A verdade é que não fui feito para assar frangos. De vez em quando dou uma prova disso. Um prédio em chamas ou as cinzas de uma casa mostram que não sou controlável. Não é á toa que sou associado ao inferno.

A verdade mesmo, é que sempre preferi carne.       

3 comentários:

camilacorado disse...

belíssima acidez-adocicada!!

Larissa disse...

HAHAHA, adorei seus textos, Gabriel :D

Braitner Moreira disse...

Genial o fim!